Em 2017, a Adobe Systems anunciou publicamente que até 2020, o Flash Player, um de seus principais softwares, seria desativado. O plug-in usado para executar arquivos SWF foi um dos pioneiros da Internet, muito usado para auxiliar na reprodução de vídeos em plataformas virtuais como, por exemplo, o YouTube, que somente em 2015 passou a adotar o HTML5 como padrão para os seus vídeos. De qualquer modo, a decisão da Adobe afetava diariamente o Habbo Hotel, uma vez que com o fim do Flash, a Sulake precisaria adotar outra estratégia para manter o jogo funcionando. No fim do ano passado, uma notícia divulgada em todas as comunidades, acabava com o mistério, revelando de uma vez por todas as pretensões da Sulake em lançar uma nova versão do Habbo em Unity.
Inicialmente, a equipe de desenvolvimento encontrou algumas dificuldades na transição, uma vez que muitas das funções do jogo não eram suportadas pelo novo engine e, por isso, alguns ajustes e mudanças seriam necessários antes do lançamento oficial do "Habbo 2020". Após a exposição de alguns prints da possível interface mobile e do editor de visuais, a Sulake prometeu que em breve revelaria mais detalhes sobre o processo e novos recursos da plataforma, contudo, até então pouco se sabe sobre o projeto, o que nos deixa receosos e ao mesmo tempo inquietos sobre o que esperar do Habbo para este ano.
A PRIMEIRA GRANDE TRANSIÇÃO
Os mais antigos e saudosistas como eu haverão de concordar que o Habbo Antigo era muito mais legal. Não só por causa da mão gigante ou dos jogos oficiais, existia algo de contagiante que despertava em todos nós adolescentes na época o desejo e a ansiedade em chegar em casa depois da aula e ir direito para o Hotel. A simplicidade como os quartos eram criados (não havia nada muito suntuoso como as estruturas faraônicas de hoje em dia) e a felicidade em ganhar um "mobi lixo" na dança das cadeiras, sem dúvida, marcaram e ainda fagulham na memória de muitos jogadores. Mas o Habbo mudou e não podemos dizer que todas as mudanças foram ruins.
Quando o Habbo Beta foi lançado em meados de 2009 o jogo se tornou mais funcional. Apesar das evidentes melhorias gráficas, alguns recursos tiveram que ser desabilitados, jogos como Battle Ball, SnowStorm e Wobble Squabble, os pulos do alto da piscina e até mesmo a composição de músicas na Trax não foram continuados na nova versão, o que gerou muita incômodo entre os usuários, afinal de contas, tudo aquilo já fazia parte da história do Habbo. No entanto, se é verdade a máxima segundo a qual "tudo que é sólido, desmancha no ar", aos poucos a comunidade ia tomando uma nova forma e o passado ia ficando cada vez mais distante. O ponto alto desta transformação, no entanto, só viria anos depois com as primeiras imagens do Projeto Illumina.
OS BASTIDORES DO PROJETO ILLUMINA
Em 2012, sob a gestão de Paul LaFontaine, a Sulake deu início a um novo grande projeto, diga-se, muito mais ambicioso do que o Habbo Beta. Apesar de uma pequena queda no número de usuário, o Habbo ainda era uma febre entre os jovens e a nova direção acreditava que já era hora de modernizar o Hotel. Foi a partir daí que surgiu o Illumina, um plano para reformular a aparência do Habbo, além de aprimorar as suas funcionalidades. Por algum motivo, o projeto foi descontinuado meses depois e até hoje as informações sobre esse fim abrupto continuam com uma série de pontas soltas.
As primeiras imagens divulgadas do projeto surgiram através de um anúncio não oficial feito pelo Ediotte (Juho Paasonen, ex-designer da Sulake e coordenador gráfico do Illumina) no seu Twitter.
Juho Paasonen
Primeiras imagens divulgadas do Projeto Illumina (clique sobre elas para ampliar).
Pouco tempo depois, Ediotte seria desligado do quadro de funcionários da Sulake e, ao que parece, muito insatisfeito com os rumos que o Illumina teria tomado. A uma matéria do fã-site Puhekupla, Ediotte teria admitido uma série de interferências no seu trabalho, o que a princípio teria inviabilizado sua permanência na equipe. Na mesma sequência, Ediotte chegou a afirmar "o show é deles", referindo-se a uma fala da gerente Ubergergely sobre a descontinuidade do projeto.
Reprodução: Puhekupla.
Tradução: "Gente, esqueçam o Illumina. Foi cancelado. Ediootti não está mais aqui. Sem a garantia de qualidade de Ediootti, não podemos avançar. As mudanças recentes são apenas facelifts rápidos, mas não refinados, como você pode ver. É como uma mistura de três estilos".
Por uma infelicidade do destino, o Habbo passou a ser investigado por suposto favorecimento a pedofilia (saiba mais aqui) e o projeto Illumina teve que sair de cena. Não demorou muito até Paul LaFontaine deixar a Sulake. Como o antigo CEO era o maior entusiasta do novo projeto, após sua saída tudo foi esquecido e nunca mais houve qualquer comentário sobre o assunto. Por outro lado, é preciso admitir que, muito embora, o Illumina tenha fracassado, muitas das ferramentas que hoje já se tornaram comuns no Hotel foram pensadas exatamente nesta época, como por exemplo o perfil de usuário (em substituição da Habbo Home), o modelo do chat que utilizamos atualmente e o programa de Guardiões (este também descontinuado).
NOTAS DO QUE A GENTE NÃO VIVEU (AINDA?)
Mas e se o projeto Illumina tivesse dado certo, como seria o Habbo hoje em dia? E, agora, com o anúncio das mudanças que estão por vir, o que podemos esperar daqui para frente? Responder essas perguntas chega a ser impossível, por isso reservei algumas notas sobre o que poderia ter sido, o que já foi e, acima de tudo, como poderá ser.
O primeiro ponto a destacar é que desde o LaFontaine - e esse parece ter sido o seu legado - o Habbo vem procurando ser cada vez mais moderno e isto inclui a ampliação do acesso via aparelhos móveis. Talvez muitos não saibam, mas essa era uma ideia do Paul, numa época em que o smartphone ainda não era tão popular como é hoje. O Paul também pretendia retornar com os antigos jogos, além de implementar novos, o que chegou a ser efetivado. Outrossim, chegou a anunciar mudanças no sistema de negociações e mantinha uma boa interação com os usuários através de sua conta Paulwalla. Mas, o que deu errado? É difícil dizer porque as ideias de Paul, muito boas por sinal, não tenham encontrado um terreno fértil para se desenvolver dentro do Hotel. Todavia, creio que o maior problema do Paul, além é claro do período turbulento que o Habbo enfrentou em 2012, tenha sido o seu impulso desmedido de querer mudar tudo antes da hora. Se é verdade que em time que se tá ganhando não se mexe, ele mexeu além da conta, não sei em que medida movido por boas intenções, mas prefiro acreditar no melhor, muito embora, ele (e qualquer outro) como CEO respondam muito mais a uma demanda de mercado, do que propriamente a satisfação dos jogadores (se é que é possível uma coisa sem a outra?).
De qualquer modo, se o Habbo do futuro quiser recuperar a fama do passado, será necessário se parecer muito mais com o Habbo Antigo do que com o Habbo de agora. Não falo de questões gráficas, pois de fato neste aspecto e em muitos ângulos o Habbo Antigo está ultrapassado, mas sim um retorno ao velho espírito e um bom relacionamento do game com os usuários. LaFontaine, apesar de inúmeros defeitos, sabia que a comunicação com os jogadores era tudo. Tudo que falta neste momento. Tudo o que o Habbo precisa ter para ser em 2020 aquele mesmo fenômeno de 2010.
Uma década depois, aqui estamos nós na iminência de mais uma grande mudança, se esta vai ser para melhor ou para pior, não sei, isso vai depender do que o Habbo pretende agregar e do que estará disposto a deixar de lado. De um jeito ou de outro, a regra é clara: quem viver, verá!
E você? O que espera do Habbo 2020?